#101 BALOGH, Mary, Ligeiramente Casados
Sinopse: Como todos os Bedwyn, Aidan tem a reputação de ser arrogante. Mas este nobre orgulhoso tem também um coração leal e apaixonado - e é a sua lealdade que o leva a Ringwood Manor, onde pretende honrar o último pedido de um colega de armas. Aidan prometeu confortar e proteger a irmã do soldado falecido, mas nunca pensou deparar com uma mulher como Eve Morris. Ela é teimosa e ferozmente independente e não quer a sua proteção. O que, inesperadamente, desperta nele sentimentos há muito reprimidos. A sua oportunidade de os pôr em prática surge quando um parente cruel ameaça expulsar Eve de sua própria casa. Aidan faz-lhe então uma proposta irrecusável: o casamento, que é a única hipótese de salvar o lar da família. A jovem concorda com o plano. E agora, enquanto toda a alta sociedade londrina observa a nova Lady Aidan Bedwyn, o inesperado acontece: com um toque mais ousado, um abraço mais escaldante, uma troca de olhares mais intensa, o "casamento de conveniência" de Aidan e Eve está prestes a transformar-se em algo ligeiramente diferente…
Opinião: Comprei este livro com alguma relutância. Sempre me pareceu que os casaisda Mary Balogh se unem mais por dever e honra do que por afecto. Não falo domomento que despoleta a sua união, mas sim do que os mantém unidosposteriormente. Não se vêem grandes paixões assolapadas, grandes lágrimas dedesilusão amorosa nem grandes sacrifícios pelo outro (podem haver sacrifícios,sim, mas geralmente por promessas a moribundos na guerra, por ex.). Este livronão foge ao padrão dos dois livros anteriores: as guerras peninsulares travadascontra Napoleão levam três oficiais ao altar. Nos dois primeiros livros asnoivas eram mulheres desadequadas, sem grande noção de etiqueta, e neste não éexcepção. Apesar de ter sido educada para ser uma dama, Eve cresceu no Oxfordshiree é por lá que pretende ficar, sem almejar uma vida em Londres ou de aventurasatrás do seu coronel de campanha militar em campanha militar. O que eu maisgosto nos livros da Mary Balogh é, contudo, a honestidade e a honradez daspersonagens. Não são máquinas sexuais acéfalas, como em muitos outros livros dogénero, em que o homem é um “libertino” e um “ocioso”. Nos livros da Mary oshomens são homens, mas são-no racionalmente. Têm as suas aventuras mas o devere essa dita honra são a sua força motriz. Por vezes sinto que falta algo noslivros dela - uma certa espontaneidade, que outras autoras conseguem atingirtão bem, entre o casal principal. Neste caso não há grande química, grande“amor à primeira vista”. Nem o coronel Aidan Bedwyn nem Eve Morris se perdem deamores ao ver-se da primeira vez e ambos lutam por combater, na sua mente,aquilo que esperavam do outro e aquilo que ele é. Não há grandes elogios aofísico de um e doutro - Eve é pálida, demasiado magra, o cinzento morre-lhe napele, o cabelo não é vistoso, é dum castanho comum, os seios são pequenos e elaenvergonha-se disso. O coronel é um homem “sombrio”, de nariz adunco, olhos ecabelo escuro, a própria pele é escura em contraste com a dela, o corpo largodo serviço militar mas também de estrutura óssea. Ele próprio receia que ela sesinta repugnada pelo seu aspecto, mas depois percorrem um caminho de aceitaçãomútua. E é esta humanidade que eu aprecio na Balogh. Bem como a franqueza daspersonagens quanto às suas intenções e desejos. Não há o jogo do homem aperseguir a mocinha bonita e ela a negar-se-lhe por palavras e depois aatirar-se-lhe para o colo sempre que pode. A Eve é honesta mesmo na intimidade,e esse entendimento mútuo beneficia o livro, que se quer mais sério do quemuitos do mesmo género literário. E é por isso que gosto dele, porque meidentifico com essas criaturas imperfeitas e com esse amor construído. Porquetambém eu sou honesta no que tenho de ser e isso é parte de nos conhecermos ede assumirmos as nossas preferências e escolhas, mesmo aquelas que não têmgrande explicação lógica.
Por isso foi para mim um prazer - e um livro assim é um conforto nos diasmais difíceis - acompanhar o modo como a Eve e o Aidan se vão tornandoindispensáveis para a felicidade um do outro. E como o amor pode nascer doconhecimento das histórias e dos defeitos mútuos. E que bonito foi vê-losinteressar-se e dedicar-se àquilo que para o outro há de mais sagrado!
Foi uma boa leitura que me angustiou quando haviafrieza entre eles, e que me enterneceu quando se permitiam ser ternos e expôr aalma perante o outro. Um casal muito bom, inesquecível.
Classificação: 4****